Sem mais nem menos,
ele veio. Todo cheio de
si, como quem manda no lugar.
Tinha uns olhos de gato
e uns lábios meio grossos.
Boca grossa para palavras grossas.
E dele só saíam coisas rudes.
Um nariz bem comum
que não se ergueu
mais que o necessário
E um sorriso arredio,
evitando rir das próprias piadas.
E, dentre as palavras rudes,
me surgiram uns
suspiros tímidos,
uma coisa sem jeito, de quem
não sabe amar.
E umas carícias
frias e macias
com uns dedos longos
que teimavam em
enlaçar os meus.
Mas me confundiam
...
Tentei fingir que era
alegre e boba.
...
E a voz sem graça confundiu
ainda mais quando mentiu
coisas ácidas só para
distrair meu peito.
Já me dava por perdida, já o seguia
a passos tontos, já jogava nas regras
que ele me escolhia.
Quando ele me pareceu dúbia, me
pareceu fraca. Os súspiros tímidos
me pareciam, mais e mais,
gritos de socorro.
A língua ainda ousava
me serpentear umas
palavras frias, uns cortes de
dentro pra fora. E os
olhos de gato ainda se
riam de tudo.
Mas todo dia que me via,
lá se vinham as mãozinhas frias.
E me pediam:
Protege, protege,
não deixa ir.
(Me enlaça?)
Mas o que o dono do mundo tinha
que era meu?
Metade amor, metade
nem te ligo.
Não fazia o menor sentido.
(Só metade?)
Não te dou o que não tenho; me disse.
Mas no fim das contas, quando eu abri
a porta para ir, mudou de ideia:
Vou procurar!
Eu gosto de pensar que
ele achou.
E deve ter achado mesmo.
(Um coração saltando de uma gaveta)
Por que os olhos de gato brilham que nem faísca;
Por que a boca grossa fala doçuras;
Por que as mãos frias, agora, me apertam, quentes;
Por que a voz sem graça me soa única;
Por que o sorriso arredio me foi virando gargalhada.
E por que, quando a gente senta no meio do nada, numa noite rosa, eu penso "que as nuvens se abrem como cortina e aí a lua sorri. Só pra nós."
Nenhum comentário:
Postar um comentário